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Especial

Remadores elogiam localização e não reclamam da água da Lagoa

Uma dupla de remadoras chinesas carregava seu barco nos ombros ao sair das águas da Lagoa Rodrigo de Freitas, zona sul do Rio. No caminho, teve que desviar de uma equipe de oito australianos que se preparava para entrar no píer do estádio de Remo, onde as competições olímpicas da modalidade serão disputadas a partir do sábado (6).

Por toda a manhã deste domingo (31) a rotina foi a mesma: barcos conduzidos por atletas de pelo menos 12 nacionalidades cortaram as raias de 2.000 metros da lagoa. Esta movimentação na raia olímpica marcou o segundo dia de treinos abertos do remo e mostrou que os Jogos já chegaram a um dos principais cartões postais da cidade.

Geralmente, as competições de remo dos Jogos Olímpicos são distantes das cidades sedes. No Rio, as provas serão realizadas no coração da zona sul carioca, rodeada pelos prédios e montanhas.

O torcedor com ingressos para as competições terá vista privilegiada das raias em uma arquibancada. Mas o público em geral poderá observar da ciclovia que circunda toda a orla da lagoa os competidores das 14 provas distintas de remo –um esporte tradicional do Rio (Flamengo, Vasco e Botafogo nasceram como clube de regatas).

A proximidade com a cidade agradou aos atletas ouvidos pela reportagem.

“É bom poder ver a torcida, o contraste das montanhas com prédios e os carros passando quando você está remando para a posição da largada. Mas, dentro da raia, a concentração é total”, afirma o remador alemão Philip Wende, 31, medalhista de ouro em Londres na modalidade four skiff –quatro remadores com dois remos cada.

O atleta disse estar empolgado em remar próximo ao Cristo Redentor, ainda que na manhã deste domingo ele se escondesse entre nuvens.

“Será fantástico terminar a regata e olhar para a grande estátua [Cristo], que é impressionante. Espero poder agradecer ao invés de lamentar”, brincou.

O técnico da equipe feminina da China de double skiff –dois remadores com dois remos cada– é um neozelandês que mudou de lado do balcão recentemente. Após participar de duas Olimpíadas e ganhar o ouro em Londres no double, Nathan Cohen, 31, virou técnico.

Para ele, o fato de a “paisagem ser incrível” e a área de competição tão próxima da cidade, irá atrair a atenção da mídia e do público, algo bom para o esporte.

“Infelizmente, o esporte nunca estará entre os mais populares dos Jogos, mas quanto mais mídia, melhor para nós”.

A localização central só não favorece aos competidores hospedados na Vila Olímpica– a lagoa fica a 27,9 km do Parque Olímpico.

O australiano Karsten Forstering, 36, está hospedado em Ipanema e chega rápido no local de competição.

Já a dupla alemã Marie Louise Drager, 35, e Ronda Finisturm, 21, hospedada na Vila, chegou a levar, na semana passada, quase duas horas para fazer o trajeto.

As águas estavam transparentes, a despeito do histórico de poluição da lagoa. Em abril de 2015, cerca de 40 toneladas de peixes morreram na mais recente mortandade vista na cidade.

Nem Eike Batista conseguiu cumprir a promessa de limpar suas águas, poluídas pelo esgoto de condomínios de luxo. Um mutirão de limpeza feito pela prefeitura conseguiu deixar o local próprio para a prática do esporte, mas não para o banho.

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SAL E VENTO

A água salgada e o vento não chegam a ser um problema, mas um desafio.

Acostumados a competir em locais de água doce, os atletas têm de se adaptar a maior flutuação do barco nessas condições. Isso permite uma velocidade maior, mas em contrapartida, o vento do inverno carioca deixa o barco mais instável.

A lagoa tem água salobra –parte doce, parte salgada–, que vem do mar de Ipanema pelo canal do Jardim de Alah.

“Você sente a água salgada quando ela espirra no seu rosto e também nos calos das mãos, que ardem um pouco mais. Nada que a gente não vá se adaptar”, disse a holandesa campeã mundial e europeia neste ano Maaike Head, 32.

Ela, que disputa o double skiff, ficou em oitavo em Londres. Head será uma das adversárias da dupla brasileira Vanessa Cozzi e Fernanda Nunes, que ao lado da dupla masculina Willian Giaretton e Xavier Magi, representará o Brasil.

Paulista, Cozzi competirá pela terceira vez na lagoa. Nunes está habituada, pois é atleta do Flamengo. Ambas as duplas brasileiras se classificaram para os Jogos, ao vencer o pré-Olímpico no Chile, em março.

O Brasil nunca ganhou medalha em um competição olímpica de remo. O melhor resultado foi o o quarto lugar no skiff duplo masculino em Paris-1924 e no dois com masculino em Los Angeles-1932 e Los Angeles-1984.

“Somos realistas. E queremos ficar pelo menos em 12º lugar”, afirmou Fernanda Nunes. “Mas numa competição tudo pode acontecer”, emendou a sua parceira Vanessa Cozzi.

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fonte: Folha de S. Paulo: Esporte | Rio 2016