Atletas do remo duvidam de projeto de reforma do Estádio da Lagoa
- Updated: 21 de março de 2015
Um dia depois de o Estado ter anunciado a obra, remadores questionam e apelam por construção de um CT
A pouco mais de 500 dias do histórico 5 de agosto de 2016, data da abertura das Olimpíadas, e às vésperas da abertura do 117º Estadual de Remo, neste domingo, às 9h, na Lagoa, o anúncio do governo do Estado, de que irá investir R$ 14 milhões para adequar o Estádio de Remo às exigências olímpicas, com a construção de uma nova torre de chegada e de nova garagem para os barcos, não chegou a convencer atletas de seleção brasileira, como Fabiana Beltrame, do Vasco; Beatriz Tavares, do Flamengo; e Ailson Eráclito, do Botafogo.
Nesta quinta-feira à tarde, em meio aos treinos para a abertura do Estadual, eles se queixaram do panorama atual e deixaram claras dúvidas e incertezas quanto ao período pós-olímpico.
— O Estádio de Remo está abandonado, totalmente abandonado. Vimos isso na última seletiva nacional (uma etapa disputada na semana passada, visando aos Jogos Pan-Americanos), com barcos batendo em barcos, barcos batendo em boias, lanchas de wakeboard, barco à vela perto da raia, pedalinhos… O pontão de largada (do outro lado da Lagoa, a 2km do estádio) foi destruído (numa tempestade há alguns anos) e continua assim. As rampas (de acesso dos remadores à água) são ruins — comentou Fabiana.
Campeã mundial de single skiff, em 2011, a atleta do Vasco expõe suas dúvidas sobre o projeto do governo estadual:
— Sou como São Tomé. Só acredito vendo. Tanta gente passou por aqui prometendo 1001 coisas, e depois do Pan, nada ficou. O que ficar (após 2016) tem de ser mantido.
APELOS POR UM CT
Para Beatriz Tavares, especialista no single skiff como Fabiana, mesmo levando-se em conta que no mês de julho o local vai sediar o Mundial Júnior, evento-teste da modalidade, ainda há muito a ser feito.
— Nós não temos (na água) a Raia Albana (que demarca exatamente a raia de cada embarcação), e até agora não há nada pronto para o evento de julho — disse. — O ideal seria termos um CT nacional para a nossa seleção.
Natural de Manaus e oriundo do remo paraense, o alvinegro Ailson Eráclito está há cinco anos no Rio. Ele sente falta de melhor estrutura para o público no estádio.
— Lá em Belém as torcidas lotam tanto os campos quanto as regatas, mas aqui ainda não é assim — lamentou.
Entre os treinadores, também sobram críticas e sugestões. Alexandre Fernandes Fernandez, o Xoxô, do Botafogo, atual bicampeão do Rio, observou que o estádio de remo carioca está numa área nobre da cidade, ao contrário de outros que ficam a quilômetros de distância das cidades:
— Espero que para nós fique o legado de uma raia muito bem demarcada, algo que dure por anos e anos.
Marcos Amorim, o Marcão, que comanda o Flamengo, considera que hoje a imagem no local é de abandono, exatamente pela falta dessas raias.
— Poderiam ter feito as obras com mais calma e com mais tempo, já que uma oportunidade como esta não teremos mais — advertiu.
Técnico do Vasco, Marcelo Neves concorda.
— Tivemos chance no Pan-2007, mas não aproveitamos, e estou vendo que não aproveitaremos de novo. Tudo para 2016 vai ser feito, mas não temos um CT nacional. Na Alemanha, por exemplo, há sete.
Tantos apelos chegaram aos ouvidos do presidente da Federação de Remo do Estado do Rio de Janeiro (Frerj), Paulo Carvalho. Na regata de domingo, o dirigente vai apelar publicamente ao pregfeito Eduardo Paes, no sentido de que onde funcionava uma antiga academia, junto ao estádio, seja criado o CT com o nome de Fabiana Beltrame:
— É a maior remadora da história do país e uma unanimidade, independentemente de clube. Todos a respeitam.